No cotidiano temos oportunidade de nos depararmos com essa pergunta diante de certas cenas que presenciamos. Certo dia, na universidade, alguém comentou comigo que, durante uma viagem a Portugal, foi criticado ao utilizar a palavra respeito numa frase que ele proferiu em uma conversa. Os portugueses diziam que no português brasileiro o significado dessa palavra havia se enfraquecido. Hoje, compreendi melhor essa frase ao me inquietar com uma manifestação tola e vazia que observei na sala de aula; então fui em busca da origem dessa palavra intrigante. Encontrei o seguinte: RESPECTUS, particípio passado de RESPICERE. RE =“de novo”+ SPECERE =“olhar”. A ideia é de que algo que merece um segundo olhar de consideração.
Interessante seria se todos concebêssemos a palavra respeito como um segundo olhar em relação a uma ideia, a um objeto, a um comportamento, a determinados traços de personalidade, às escolhas dos outros, a tudo o que é diferente do que somos, temos, valorizamos ou cremos, não seria? Assim poderíamos decidir olhar mais de uma vez para as coisas antes de opinar, criar polêmicas ou dar risadas preconceituosas. Eu sei que muitas vezes não faço caso do que não gosto ou não acredito. Ninguém é obrigado a gostar ou concordar com tudo, nem deve, pois se assim fizer perderá a chance de ser um humano essencialmente autêntico. Mas desprezar ou escarnecer ao outro por que ele não é parecido comigo é a completa ausência de respeito pelo próximo, que tem tanto direito de ser levado em conta quanto eu. Como diria Shakespare, "não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito."
Mas falando da tal falta de respeito que me incomodou em sala de aula, foi sobre as risadas debochadas causadas pela delicadeza, suavidade e, por que não dizer, feminilidade nos traços de expressão de um rapaz que apresentava um trabalho. Não entendi do que se tratava aquilo além de uma típica reação de quem não entende e talvez não queira praticar o bem do respeito. Assim como todos, supus que o tal rapaz era homossexual, e nem por isso me achei no direito de rir do jeito dele de expressar quem é. Não estou dizendo que concordo, estou dizendo que eu e muitos outros colegas demonstraram consideração pela pessoa dele, pela dignidade e livre arbítrio que Ele tem. Eu, Débora, ainda quando criança, aprendi que "para com Deus, não há acepção de pessoas" (Romanos 2:11) e, refletindo sobre isso, entendo que nem mesmo Deus, que tem autoridade para julgar como lhe apraz por ser o supremo juiz do universo, não faz distinção entre pessoas, não exclui, não zomba das escolhas humanas, mas dá oportunidades para que o homem o conheça e opine pelos Seus padrões por perceberem que Ele o criou e que somente com Sua ajuda divina as pessoas podem chegar à caminhos de satisfação. Se Deus, que é Deus, mostra respeito pelas nossas escolhas ao nos deixar livres para buscá-lo ou não, por que nos tornamos quase incapazes de retribuir esse respeito? Não posso responder por você. Mas minha própria consciência avisa que eu não olho duas vezes para muitas coisas. Desprezar ou fazer disso uma risada é mais fácil. Enfim... "Se for falar mal de mim me chame, sei coisas terríveis a meu respeito." (Tati Bernardi) Rs!
Fica aí essa reflexão para todos nós. Vamos sempre fazer uma releitura do que fomos, somos e queremos nos tornar. A vida passa rápido e a única coisa que levaremos conosco é a forma como nos relacionamos com as pessoas e com o Criador.
Olhe de novo. E de novo. Mais consideração. Mais RESPEITO.
Assim poderemos requerer dos outros essa palavra que tanto desejamos para nós.